A Cia de Teatro Madalenas concluiu a 1ª semana de sua temporada com o espetáculo "Corpo Santo". Gostaríamos de ouvir as impressões, sensações e opinião do publico. Quem quiser comentar estamos abertos para "ouvi-los!.
Lindas e Lindos! Gostei muito do espetáculo: as músicas muito bem interpretadas e colocadas. O ator tem um desempenho muito bom no espaço, se movimentando lindamente. Senti uma dificuldade de entender algumas falas, ou eram apenas murmurios que eu pensei que eram falas??? talvez. Em resumo: gostei do conjunto, me pareceu harmonioso...
Se o propósito de assistir ao Corpo Santo fosse apenas o visual, já poderíamos nos chegar à esquina e propagar que estivéramos diante de um grande espetáculo. Ocorre que esse grande não se complementa, pois já é inteiro, mas se suplementa com outro espetáculo, que se divide entre o auditivo (voz, música e instrumentos casados) e as nuances de um texto que nos instiga a decifrá-lo e, como toda grande obra, a revê-lo. João Bosco Maia
Esse depoimento foi do Edson Fernando. Ele nos enviou por e-mail.
PARTE 1
“O CORPO E O SANTO” Diante do templo, a conversa informal com os amigos ajudava como passatempo Até que o momento do ato sagrado tivesse seu início; Trivialidades, fofocas, casos comentados e histórias curiosas animam e distraem o ambiente ainda tomado pelos ares profanos de nossa mais autêntica condição humana; Ao fundo um canto distante vai rasgando o espaço; varagosamente adentra e silencia nossas vozes vulgares; O canto é triste, soa como um lamento, quase um choro incontido Cerimonialmente surge o cortejo do Santo: A frente, abrindo os caminhos vai a serva com a defumação, Três sacerdotisas imponentes vêm logo atrás A do meio carrega a Imagem do Santo Outros servos seguem logo atrás, quatro ou cinco homens Com semblante desconfortável A julgar pela fisionomia parecem mais escravos do que servos; O cortejo segue em procissão pela frente do templo Meu desejo é de juntar-me aquela primeira manifestação do sagrado Entoando também o canto lamentoso
Mas isso me fora vedado; Antes que pudesse dele fazer parte, o cortejo deu meia volta E dirigiu-se para a entrada do templo Talvez não estivéssemos preparados ou iniciados para participar da santidade Apenas assistir a passagem majestosa das sacerdotisas a carregar o Santo, No hall de entrada do templo os gestos de permissão Para adentrar no espaço sagrado também me são vedados Em virtude da multidão a minha frente; Fico frustrado, pois mesmo me esticando para compartilhar Daquele solene momento, nada consigo apreender; A entrada é liberada Mas antes que eu pudesse tocar no solo sagrado Uma estranha espécie de guardião do templo Recepciona-me estranhamente:
“Bom espetáculo!!!” Ao não compreender o sortilégio que me fora apresentado sigo em frente; Banhando-me com o perfume da santidade que ali se encontra Reforço meu desejo de impregnar-me do sagrado; Já no espaço do ritual percebo que nos fora ofertado lugares a margem do ritual: Uma espécie de arquibancada nos mantém em distância segura e cômoda; Compreendo então que vou assistir e não participar, ou mesmo co-participar; Ainda tento saber se é permitido sentar no chão ao redor do círculo gigante (mandala da santidade) Mas isso também não fora permitido; Recolhido a minha condição de expectante sento-me na arquibancada; No fundo um gigante altar rompe a escuridão De lá vem os sons estupefacientes dos tambores e as vozes femininas das sacerdotisas anunciam com solenidade os ritos iniciais; a serva da defumação pede licença, adentra na mandala da santidade e com um leve bailado vai purificando o espaço, elevando com a fumaça nossos desejos de encontro com o santo; A imagem do altar me fascina, me seduz, Ele está longe, mas consegue me esmagar na cadeira A presença das sacerdotisas colocadas ali vai me entorpecendo, A ponto deu abstrair quase que completamente os escravos a tocar os tambores; Em minha configuração imagética
apenas o enlevo das sacerdotisas e o som dos tambores; os escravos estão transmutados nos sons que produzem; De repente surge o bailarino esguio Passos firme o conduz até a beira da mandala Pedindo licença ele penetra no espaço sagrado Traz no corpo a marca da santidade impressa nas costelas E é delas que nasce sua dança aparentemente disforme e caótica Bailando pela mandala ele curiosamente insiste em não respeitar a circularidade do espaço, nunca nos dá as costas, e só raramente podemos observá-lo de perfil; instantes de bailando no silêncio até que sua estranha e aguda voz irrompe narrando os desígnios de Jorge; Abstraio a narrativa textual, ela não me seduz e por vez até me incomoda Pois sinto que ela oblitera minha conexão com o sagrado,
Com o cerimonioso, com o ritual; Abstraindo do inteligível observo atentamente o bailado das costelas Procurando nelas pistas para decifrá-las na sua condição de ideogramas; A cerimônia avança e quando sou confrontado com os dois planos de ritualização (o altar e a mandala) espontaneamente sou capturado pelo primeiro e de lá já não consigo me libertar; os cantos e os sons dos tambores vão me enlevando, hipnotizando, e no meu entorpecimento o altar inteiro é reduzido à figura dilatada de apenas uma sacerdotisa: a da esquerda;
ela reina soberana no altar com sua voz e sua ginga sutil, tornando-se a própria manifestação da santidade; assim enlevado sou seu prisioneiro até os ritos finais quando no centro da mandala surge a imagem do dragão forjada no concreto frio, nas muralhas sólidas de nossa humanidade ignóbil; Felizmente a imagem da sacerdotisa está ali me amparando; E colocada no plano elevado me aponta a possibilidade de transcender Para outras formas de percepção; O término do ritual é súbito; E com a certeza de que precisava digerir daqueles segredos sagrados Na mais plena solidão, sigo de volta pra casa sem trocar idéias Sem conversar com ninguém; Guardei aqueles fragmentos de santidade vivenciados ali para só compartilhá-los agora; ainda que de forma pouco clara ou objetiva; Mas este talvez seja um dos mistérios da natureza do sagrado Ele não pode ser descrito com palavras; Deve ser vivenciado com entrega e devoção.
Corpo Santo: uma experiência estética e não só e tanto: meu reencontro com o sagrado, com a minha religiosidade, o meu desconhecido, meu divino mistério interior...impossível, senhores, falar deste espetáculo como a espectadora que não fui, ainda que muito desejasse ter contemplado da platéia, à italiana, as formas em cores e sonoridades que Corpo Santo nos expunha... ...como uma cantente a Ogum, a São Jorge, compondo o coro cênico do espetáculo, eu era mais um elemento, mais um símbolo azul daquele ritual...nele, todos os elementos da linguagem cênica foram muito bem concebidos, sempre a ressaltar a dimensão simbólica... ...Rodrigo, com seu corpo-energia, seu corpo-imagem que se expandia tanto a conseguir nos tocar, pegando nossa mão, levando-nos para bailar no centro da mandala...num movimento infinito...e era Leonel Ferreira, meu querido Léo, a conduzir sua dança, conduzir nosso canto, conduzindo magistralmente todos nós... ...Tainah, minha mana, resolvendo tudo com flávio, fazendo os contatos, conseguindo espaço na mídia para a divulgação, nossos lanchinhos deliciosos... ...todos, todos maravilhosos: Paturi, Júnior, Alemão, Welersson, Dina, Érika, Tiaguinho, Aníbal, Blá, Cléber...era Ogum abrindo nossos caminhos!!! ...Nosso trabalho foi belo,queridos, belo!!! ...Obrigada sempre!!! ...Axé!!! Saravá Ogum!!!
Um espetáculo e tanto. Curto, mas o necessário pra uma boa reflexão sobre os monstros que enfrentamos e por vezes, somos; além de experimentarmos do contagiante trabalho corporal que o Rodrigo desenvolve. Maravilhoso! Vale conferir.
Lindas e Lindos!
ResponderExcluirGostei muito do espetáculo: as músicas muito bem interpretadas e colocadas. O ator tem um desempenho muito bom no espaço, se movimentando lindamente. Senti uma dificuldade de entender algumas falas, ou eram apenas murmurios que eu pensei que eram falas??? talvez. Em resumo: gostei do conjunto, me pareceu harmonioso...
Se o propósito de assistir ao Corpo Santo fosse apenas o visual, já poderíamos nos chegar à esquina e propagar que estivéramos diante de um grande espetáculo. Ocorre que esse grande não se complementa, pois já é inteiro, mas se suplementa com outro espetáculo, que se divide entre o auditivo (voz, música e instrumentos casados) e as nuances de um texto que nos instiga a decifrá-lo e, como toda grande obra, a revê-lo.
ResponderExcluirJoão Bosco Maia
Qual é a história dessa peça? tem contraindicação para menores?
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirEsse depoimento foi do Edson Fernando. Ele nos enviou por e-mail.
ResponderExcluirPARTE 1
“O CORPO E O SANTO”
Diante do templo,
a conversa informal com os amigos ajudava como passatempo
Até que o momento do ato sagrado tivesse seu início;
Trivialidades, fofocas, casos comentados e histórias curiosas
animam e distraem o ambiente ainda tomado pelos ares profanos
de nossa mais autêntica condição humana;
Ao fundo um canto distante vai rasgando o espaço;
varagosamente adentra e silencia nossas vozes vulgares;
O canto é triste, soa como um lamento, quase um choro incontido
Cerimonialmente surge o cortejo do Santo:
A frente, abrindo os caminhos vai a serva com a defumação,
Três sacerdotisas imponentes vêm logo atrás
A do meio carrega a Imagem do Santo
Outros servos seguem logo atrás, quatro ou cinco homens
Com semblante desconfortável
A julgar pela fisionomia parecem mais escravos do que servos;
O cortejo segue em procissão pela frente do templo
Meu desejo é de juntar-me aquela primeira manifestação do sagrado
Entoando também o canto lamentoso
PARTE 2
ResponderExcluirMas isso me fora vedado;
Antes que pudesse dele fazer parte, o cortejo deu meia volta
E dirigiu-se para a entrada do templo
Talvez não estivéssemos preparados ou iniciados para participar da santidade
Apenas assistir a passagem majestosa das sacerdotisas a carregar o Santo,
No hall de entrada do templo os gestos de permissão
Para adentrar no espaço sagrado também me são vedados
Em virtude da multidão a minha frente;
Fico frustrado, pois mesmo me esticando para compartilhar
Daquele solene momento, nada consigo apreender;
A entrada é liberada
Mas antes que eu pudesse tocar no solo sagrado
Uma estranha espécie de guardião do templo
Recepciona-me estranhamente:
PARTE 3
ResponderExcluir“Bom espetáculo!!!”
Ao não compreender o sortilégio que me fora apresentado sigo em frente;
Banhando-me com o perfume da santidade que ali se encontra
Reforço meu desejo de impregnar-me do sagrado;
Já no espaço do ritual percebo que nos fora ofertado lugares a margem do ritual:
Uma espécie de arquibancada nos mantém em distância segura e cômoda;
Compreendo então que vou assistir e não participar, ou mesmo co-participar;
Ainda tento saber se é permitido sentar no chão ao redor do círculo gigante
(mandala da santidade)
Mas isso também não fora permitido;
Recolhido a minha condição de expectante sento-me na arquibancada;
No fundo um gigante altar rompe a escuridão
De lá vem os sons estupefacientes dos tambores
e as vozes femininas das sacerdotisas anunciam com solenidade os ritos iniciais;
a serva da defumação pede licença, adentra na mandala da santidade
e com um leve bailado vai purificando o espaço,
elevando com a fumaça nossos desejos de encontro com o santo;
A imagem do altar me fascina, me seduz,
Ele está longe, mas consegue me esmagar na cadeira
A presença das sacerdotisas colocadas ali vai me entorpecendo,
A ponto deu abstrair quase que completamente os escravos a tocar os tambores;
Em minha configuração imagética
PARTE 4
ResponderExcluirapenas o enlevo das sacerdotisas e o som dos tambores;
os escravos estão transmutados nos sons que produzem;
De repente surge o bailarino esguio
Passos firme o conduz até a beira da mandala
Pedindo licença ele penetra no espaço sagrado
Traz no corpo a marca da santidade impressa nas costelas
E é delas que nasce sua dança aparentemente disforme e caótica
Bailando pela mandala ele curiosamente
insiste em não respeitar a circularidade do espaço,
nunca nos dá as costas,
e só raramente podemos observá-lo de perfil;
instantes de bailando no silêncio até que sua
estranha e aguda voz irrompe narrando os
desígnios de Jorge;
Abstraio a narrativa textual, ela não me seduz e por vez até me incomoda
Pois sinto que ela oblitera minha conexão com o sagrado,
PARTE 5
ResponderExcluirCom o cerimonioso, com o ritual;
Abstraindo do inteligível observo atentamente o bailado das costelas
Procurando nelas pistas para decifrá-las na sua condição de ideogramas;
A cerimônia avança e quando sou confrontado com os dois planos de ritualização
(o altar e a mandala)
espontaneamente sou capturado pelo primeiro
e de lá já não consigo me libertar;
os cantos e os sons dos tambores vão me enlevando, hipnotizando,
e no meu entorpecimento
o altar inteiro é reduzido à figura dilatada de apenas uma sacerdotisa:
a da esquerda;
PARTE 6
ResponderExcluirela reina soberana no altar com sua voz e sua ginga
sutil, tornando-se a própria manifestação da santidade;
assim enlevado sou seu prisioneiro até os ritos finais
quando no centro da mandala surge a imagem do dragão
forjada no concreto frio, nas muralhas sólidas de nossa humanidade ignóbil;
Felizmente a imagem da sacerdotisa está ali me amparando;
E colocada no plano elevado me aponta a possibilidade de transcender
Para outras formas de percepção;
O término do ritual é súbito;
E com a certeza de que precisava digerir daqueles segredos sagrados
Na mais plena solidão, sigo de volta pra casa sem trocar idéias
Sem conversar com ninguém;
Guardei aqueles fragmentos de santidade vivenciados ali
para só compartilhá-los agora;
ainda que de forma pouco clara ou objetiva;
Mas este talvez seja um dos mistérios da natureza do sagrado
Ele não pode ser descrito com palavras;
Deve ser vivenciado com entrega e devoção.
Queridos,
ResponderExcluirsegue o link para minha postgem no meu blog.
Tô precisando de umas imagens para colocar lá. Assim que der eu arrumo.
Beijos e parabéns!!!
HUDSON
http://curiadarte.blogspot.com/2010/05/ponta-de-lanca.html
Depois de assistir o espetáculo, passei dias pensando nele.
ResponderExcluirDigerindo-o...
Maravilhoso!
Parabéns a todos!
Corpo Santo: uma experiência estética e não só e tanto: meu reencontro com o sagrado, com a minha religiosidade, o meu desconhecido, meu divino mistério interior...impossível, senhores, falar deste espetáculo como a espectadora que não fui, ainda que muito desejasse ter contemplado da platéia, à italiana, as formas em cores e sonoridades que Corpo Santo nos expunha...
ResponderExcluir...como uma cantente a Ogum, a São Jorge, compondo o coro cênico do espetáculo, eu era mais um elemento, mais um símbolo azul daquele ritual...nele, todos os elementos da linguagem cênica foram muito bem concebidos, sempre a ressaltar a dimensão simbólica...
...Rodrigo, com seu corpo-energia, seu corpo-imagem que se expandia tanto a conseguir nos tocar, pegando nossa mão, levando-nos para bailar no centro da mandala...num movimento infinito...e era Leonel Ferreira, meu querido Léo, a conduzir sua dança, conduzir nosso canto, conduzindo magistralmente todos nós...
...Tainah, minha mana, resolvendo tudo com flávio, fazendo os contatos, conseguindo espaço na mídia para a divulgação, nossos lanchinhos deliciosos...
...todos, todos maravilhosos: Paturi, Júnior, Alemão, Welersson, Dina, Érika, Tiaguinho, Aníbal, Blá, Cléber...era Ogum abrindo nossos caminhos!!!
...Nosso trabalho foi belo,queridos, belo!!!
...Obrigada sempre!!!
...Axé!!!
Saravá Ogum!!!
moahra fagundes.
Um espetáculo e tanto. Curto, mas o necessário pra uma boa reflexão sobre os monstros que enfrentamos e por vezes, somos; além de experimentarmos do contagiante trabalho corporal que o Rodrigo desenvolve. Maravilhoso! Vale conferir.
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